domingo, 17 de novembro de 2013

fincava-lhe os dedos entre as as costelas
sentindo uma a uma
apertava seus ossos do quadril
fortes, saltados
largos

na pele branca, pálida, fina
vê-se facilmente suas veias
azuladas
como vê-se supernovas
em correntes marítimas

sente-se sua essência forte
como se ela fosse na verdade
um estado de espírito
quem a conhece não diz
eu que a compreendo
sinto-a

a sua nudez sonolenta na cama
o leve peso dos seus movimentos
inclinando-se para trás
quando espreguiça
seu pescoço nu, esticado
e as clavículas, as clavículas...

mordisca os lábios rubros, ressecados
arranca todas as peles
esses, levemente machucados
marcados
anunciam
seria preciso matemáticas de outra natureza
para medir a largura do seu sorriso

a impiedade geométrica das
suas curvas
violentas, agressivas
imperfeitas
como a sua respiração
sempre ofegante
rendem as minhas forças
já desconheço-me por inteiro

não, não me deixa agoniar nos
seus olhares fixos
abrindo abismos que
parecem me engolir segundo a segundo
tirando-me de órbita

assisto-a
tentando se encontrar olhando no espelho
desembaraçando o cabelo com os dedos
como eterno fiel seguidor do
seu cheiro de doce e maresia
que persiste ainda nas minhas mãos

os segundos em que se levanta
caminha suavemente
move-se, mexe os dedos
fez-me saber todos as sensações que
poderiam existir nesse espaço-tempo inteiro
flagro-me desnorteado com sua substancia
pairando no ar
em carne viva.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

muitos
batem
se trombam
diminuem
chegam
somem
cegam-se
desesperados por luz
fogem da escuridão

alcançam o nirvana
da luminosidade
inconscientemente
o barulho
das asas, o coro das trombadas
o bagulho

caidos, anestesiados
o peso dessa casa nas asas
esperam
acabar o barato
cada clarão
é um dia, após outro dia

feito besouro
se joga
se entrega
dourado
não vê que a luz
não diminui os males
é que não tem, coitados
ninguém pra lhes contar
como vive a vida

incandescentes
indescentes
contentes
viciados
queimam a alma
na dor iminente

encantados
prezados ou
desprezados
feito coração
que hora deixa voar
hora esmaga

e o que você não imagina
é que esse poema fala de tantas coisas
tão pouco
fala de besouros.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

o calor insuportável
numa noite de verão
a mosqueteira verde na janela
que não impediu a entrada dos
bichinhos de chuva ou calor ou amor
que nos rodeiam quando voltam
das travesseiradas ao ar
e o ventilador de teto
que ao girar faz barulho e não vento
e você
inerte
inclemente
imperturbável

ou
talvez tudo isso seja apenas um
sutil devaneio
desses que veem nos dias
que são paulo ameaça
esquentar
mas só ameaça
como ameaça seus olhos
fugirem dos meus.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

e agora, josé?
o banco
a praça
as casas
mal asssombradas
o dia
a noite
a passarela
o hotel
a avenida
o puteiro
a rua de cima
E agora, você?
E agora os cachorros
o salgado
a máquina do lado
o ciúmes afogado
o tênis molhado
o guarda-chuva furado
e agora, josé?
e os guardas municipais
e o vinho
e os sete e vinte e cinco
e o fumo
e os livros
me diz, josé o que serão dos caminhos
me diz você, como é que hei de proceder
que modo há de viver
e agora o desespero crônico?
socorro José.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

as falas
as roupas
os carros, faróis, pessoas
a mente
sobrecarrega
sai do trilho
fica suspensa no ar
as vezes nem pensa
só existe, dentro dos olhos
em segundo plano.
amanhece como vulto
rosto e pulso
da vontade de sossego
de um blackout da mente.