segunda-feira, 24 de março de 2014

O domingo amanhecia insolente
enquanto o sol recendia frio
seu corpo de leite
casca que abriga
poço de amor e medo
e eu, deste lado da cama
observo como quem
transborda
de perdas e danos.
Não podiam deixar de nos brindar com
as gotas no telhado
que chega pra secar as lágrimas
que chega pra molhar as incertezas
e nós dois feito correnteza
entrelaçando pernas e braços
como dois rios
que se chocam.
A chuva teve que chegar na hora certa
como nas outras vezes
no momento exato
na hora H.

domingo, 17 de novembro de 2013

fincava-lhe os dedos entre as as costelas
sentindo uma a uma
apertava seus ossos do quadril
fortes, saltados
largos

na pele branca, pálida, fina
vê-se facilmente suas veias
azuladas
como vê-se supernovas
em correntes marítimas

sente-se sua essência forte
como se ela fosse na verdade
um estado de espírito
quem a conhece não diz
eu que a compreendo
sinto-a

a sua nudez sonolenta na cama
o leve peso dos seus movimentos
inclinando-se para trás
quando espreguiça
seu pescoço nu, esticado
e as clavículas, as clavículas...

mordisca os lábios rubros, ressecados
arranca todas as peles
esses, levemente machucados
marcados
anunciam
seria preciso matemáticas de outra natureza
para medir a largura do seu sorriso

a impiedade geométrica das
suas curvas
violentas, agressivas
imperfeitas
como a sua respiração
sempre ofegante
rendem as minhas forças
já desconheço-me por inteiro

não, não me deixa agoniar nos
seus olhares fixos
abrindo abismos que
parecem me engolir segundo a segundo
tirando-me de órbita

assisto-a
tentando se encontrar olhando no espelho
desembaraçando o cabelo com os dedos
como eterno fiel seguidor do
seu cheiro de doce e maresia
que persiste ainda nas minhas mãos

os segundos em que se levanta
caminha suavemente
move-se, mexe os dedos
fez-me saber todos as sensações que
poderiam existir nesse espaço-tempo inteiro
flagro-me desnorteado com sua substancia
pairando no ar
em carne viva.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

muitos
batem
se trombam
diminuem
chegam
somem
cegam-se
desesperados por luz
fogem da escuridão

alcançam o nirvana
da luminosidade
inconscientemente
o barulho
das asas, o coro das trombadas
o bagulho

caidos, anestesiados
o peso dessa casa nas asas
esperam
acabar o barato
cada clarão
é um dia, após outro dia

feito besouro
se joga
se entrega
dourado
não vê que a luz
não diminui os males
é que não tem, coitados
ninguém pra lhes contar
como vive a vida

incandescentes
indescentes
contentes
viciados
queimam a alma
na dor iminente

encantados
prezados ou
desprezados
feito coração
que hora deixa voar
hora esmaga

e o que você não imagina
é que esse poema fala de tantas coisas
tão pouco
fala de besouros.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

o calor insuportável
numa noite de verão
a mosqueteira verde na janela
que não impediu a entrada dos
bichinhos de chuva ou calor ou amor
que nos rodeiam quando voltam
das travesseiradas ao ar
e o ventilador de teto
que ao girar faz barulho e não vento
e você
inerte
inclemente
imperturbável

ou
talvez tudo isso seja apenas um
sutil devaneio
desses que veem nos dias
que são paulo ameaça
esquentar
mas só ameaça
como ameaça seus olhos
fugirem dos meus.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

e agora, josé?
o banco
a praça
as casas
mal asssombradas
o dia
a noite
a passarela
o hotel
a avenida
o puteiro
a rua de cima
E agora, você?
E agora os cachorros
o salgado
a máquina do lado
o ciúmes afogado
o tênis molhado
o guarda-chuva furado
e agora, josé?
e os guardas municipais
e o vinho
e os sete e vinte e cinco
e o fumo
e os livros
me diz, josé o que serão dos caminhos
me diz você, como é que hei de proceder
que modo há de viver
e agora o desespero crônico?
socorro José.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

as falas
as roupas
os carros, faróis, pessoas
a mente
sobrecarrega
sai do trilho
fica suspensa no ar
as vezes nem pensa
só existe, dentro dos olhos
em segundo plano.
amanhece como vulto
rosto e pulso
da vontade de sossego
de um blackout da mente.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012


A mesa de madeira recendia
o cheiro de cerveja
o farol dos carros
enquadrava
a grande angular daquelas
teorias sobre o caos e a vida
e sobre vermelho ser uma junção de todas as cores
mas eu na verdade acho
que seus olhos são
uma junção de todas as coisas da vida.

Você encara
esses prédios todos
de um jeito que faz com que eu me pergunte
como é que a cidade não acaba se embolotando
e ficando na contra-mão.

Enquanto digo que o
ideal seria a vida vadia
assim todos os dias
o teu olhar invade
a Bela Cintra
que mal percebes a calçada
quando percebes
meu exército de sentidos já se
rendeu ao teu
par de castanhas
declarações de guerra

E só essa avenida
só essa avenida salpicada de luzes natalinas
será capaz de resistir
ilesa aos bombardeios
que teus sorrisos
despeja sob os
céus da cidade.

domingo, 4 de novembro de 2012

Ter memória é não ter paz.

domingo, 14 de outubro de 2012

Aline Narcoléptica.


A cidade escolheu justamente hoje para sucumbir ao calor, o dia amanheceu bom para velejar, viajar alguns quilômetros o centro do oceano ao lado de Aline parecia a ideia menos estúpida que tivera em dias. Procurou por entre os papeis na mesa algum que tinha rabiscado seu telefone, ligou assim que encontrou. Marcou com Aline que aceitou simpaticamente o convite. Uma hora mais tarde chegou vestindo uma saída de banho branca, tinha a pele muito clara e o nariz vermelho por conta da gripe, cabelos ruivos dourados e as unhas dos pés pintadas.
Carlos tem o costume de levar alguns enlatados e pratos prontos quando sai para velejar, mas desta vez comprou peixe, vinho e algumas frutas.
— Você costuma sempre velejar sozinho?
— Sim...
— Por que? Por que não chama algum amigo?
— Porque eu prefiro assim, gosto de ouvir apenas o meu pensamento, trago cá o que gosto e não me causa desgastes mentais.
— E você me trouxe para cá...
— Sim.
— Então gosta de mim?
— Sim, Aline.-  Porra, o que ela precisa? Um sinal de neon que relampeja em sua fronte?
Aline tem um dom excepcional para questionar o que é malditamente óbvio, algumas vezes.
— De qualquer forma, me custa entender...
— Acredito que sejam singularidades..
— E nesse quesito parece que ambos estamos em extremos delas, você alguém de pouca sensibilidade e que quase nunca tem sua razão alterada e eu, provavelmente, tenho todas essas singularidades no sentido contrário.
— Veja bem, você não alimenta esse meu gênio ruim, entretanto sinto que as vezes você o absorve, acaba levando para toda sua sensibilidade o meu comportamento ruim e talvez não saiba como lidar com isso da mesma maneira que eu....
—  Talvez Carlos, afinal todos nós temos pesos e medidas diferentes para ponderar aquilo que se vê de importante para a vida. A realidade é que comecei a ponderar que realmente isso não tenha mais saída, talvez você realmente nunca consiga ser alguém totalmente sociável, não consiga perder o hábito de me fechar em uma bolha em ambientes públicos.
Não se lembrava que Aline podia falar tanto. Foi quando ela deixou de falar para regurgitar todo o fermentado que havia batido em seu estomago vazio viajando em uma enorme bacia que balança e sacode o tempo todo.
Carlos assou o peixe que comprou previamente temperado e levou até a mesa perto do estofado onde Aline encontrava-se despertando.
— Como se sente?
— Melhor do que mereço — murmurou
— Coma um pouco, é melhor...
Enquanto fatiava e servia o peixe, Aline pegou a flor que decorava a mesa e colocou nos cabelos, atrás da orelha.
Carlos não aguentou, foi impossível segurar o riso, quase gargalhou.
Aline ruborizou, — Uma mulher não pode tentar ser graciosa?
— Eu simplesmente te vi vomitando pelo chão, no mar e em si mesma. Não há nada mais deselegante em termos de educação feminina.
Aline jurou quase silenciosamente nunca mais beber vinho e velejar de uma só vez.
Carlos concordou de pronto: — Nunca, neste ou em qualquer universo... e sorriu. Em pensamento acrescentou que Aline deveria ser magnifica em qualquer condição.
— Ah, bom... E o que você pensa quando está aqui?
— Você voltou nisso...
— Eu não  entendo porque um ser humano gosta de ficar sozinho...
— Isto é muito apavorante para por em palavras...
— Apenas tente.
Aline estava quase dormindo quando insistiu com voz rouca de sono e garganta inflamada. Como ela faz isto? Ela pode convencer qualquer um de qualquer coisa.
— O mundo não aceita  pesos como eu, defuntos galvanizados, esperando em terra pela sua segunda morte... sou um autêntico fodido mental, Aline.
Tentou resistir e falhou miseravelmente  fechou os olhos, enquanto seu interior desenrolou e desligou-se do mundo exterior novamente. Ela estava linda como nunca, o tecido branco molhado, parcialmente cobertos com os cabelos longos e a pele pálida, levemente pigmentada. Perturbado concluiu, Aline era imaculada.

sexta-feira, 13 de julho de 2012


Nem posso lembrar da última vez que choveu assim, com tanta fúria, com tanta ira.
No flash dos relâmpagos vejo a imagem dele se fixar na superfície dessas paredes cobertas por azulejos espelhados.
O som do trovão é o estrondo que ouço nas vezes que correndo, meto o pé nas poças d'água.
À essa altura já não há nada seco em mim, e já não ligo pra isso.
Meu bem, tristeza é não te ter aqui...Na chuva fria, na hora H.

terça-feira, 26 de junho de 2012

A desgraçada suja e bêbada da Augusta (ou O texto Auto-Explicativo).


Em São Paulo meu coração não é o mesmo em noites assim, há muita felicidade forçada por aqui. Seguindo pela rua, nossos olhos vão ficando turvos, diminuem de tamanho.
Na calçada de uma loja de produtos eróticos havia um cara sentado, encostado na vitrine, com um caderno em uma mão e caneta em outra escrevia. Sem ler seus versos eu pude imaginar tudo que ele relatava naquele pedaço de papel, então senti uma vontade imensurável de juntar-me a ele. Já que escrever tem sido a única saída logo eu estaria expelindo versos com bafo de vinho.
Sorte em termos neblina às vezes, deixa o clima mais cinematográfico, a garoa que apaga aos poucos o brilho da vista dos prédios e do relógio grande lá em cima, em frente ao Safra. Isso tudo me transmite aquele sentimento de boa vida momentâneo que a vista nos proporciona. A visão panorâmica dessa superfície de concreto permite sentir  as nuvens despencando nada densas e é preciso quase fechar os olhos para focar objetos mesmo à distâncias curtas. Pra focar gente entupida de tóxico e que precisa fazer dele um aliado para sobreviver, os caras perdidos querendo se aproveitar de alguma forma, as putas pagas ou não, os mendigos, os vendedores de cerveja a três reais. Deve ser a dor que torna essa cidade mais elegante, e eu a devo amar por uma espécie de pena.
Aqui não é permitido esquecer. Então mando mensagem de madrugada cheia de cachaça na cabeça pra dizer que estou na zona sul e narrar quaisquer outros fatos (deixando claro que tudo ali a faz lembrar dele) torcendo pra que não fique puto e ache no mínimo engraçado. Ao menos fui discreta, e não tentei ser a poética chapada, como faço nos outros dias numa tentativa falha de impressionar. Seria interessante saber como se sente quando alguém é capaz de lembrar-se dele enchendo a cara pelas sarjetas da Frei Caneca. Nesse estado eu sou capaz de ouvir até Alcione. Vai ver não é paixão, é vontade. Isso tudo não dará em nada, mas ao menos me rendeu bons escritos.
Realmente não espero nada dele, nem que entenda, nem que mude, nem que se preocupe, nada. Nada apenas. Pode morrer se quiser, porque essa melancolia não tem nada a ver com ele. Talvez só comigo que a qualquer momento poderia cessar o movimento, afinal, ninguém supõe, mas essa calma é imagem e superfície.
São Paulo, não me venha ferir com tua beleza, não venha prometer qualquer sobriedade, encarar a realidade ainda é muito triste e não sinto esse frio que ouço tanto falar por culpa (ou graças ao) alto teor de álcool. Se não eu teria que buscar a religião ou a auto-ajuda ou o suicídio... O dia ameaça amanhecer e o céu começa num tom acobreado da cor dos meus cabelos. O caminho de volta a cidade é sempre o mesmo e o mesmo batom borrado cor de caqui. E não há o que se preocupar. Eu juro. Não há. 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Eu também gosto quando ele se cala e está como ausente, mas quando chama por meu nome, Pablo, Pablo, ele faz voltar a ter brilho esses olhos cá que passam noites a fio desejando-o.

quinta-feira, 21 de junho de 2012


Seu fantasma que me persegue a semanas, esta a me perturbar o juízo
esses dias ele voltou, sentou-se novamente no sofá
tenho a impressão de que abriu um livro
ele sempre esteve aqui ou eu que só o notei agora?
eu reconheço no seu semblante que
pertence a raça de homens que me arrancam as vísceras.

Amaldiçoada te imagino
(e não sei como sobrevivo)
na solidão de um quarto
revestido por banda larga
é então que me lembro
que és de carne e osso
e isso é o que mais dói.

Saber que perdeu-se a receita da tua infelicidade
permita-me comparar-te à um começo de tarde chuvoso
gosto de entardecer assim
e de palavras pessimistas
e filmes que me fazem chorar
é que amo tudo que me deixe mais triste.

Tenho a impressão
nessas lacunas de imaginação
que a chuva existe por sua causa.

Essas suas palavras
doces ou não
me aliciam
a invadir sua casa
assim, num dia desses
de sol
e fazer uma carnificina
quebrar teus ossos
martelar tua cabeça
rasgar tuas roupas e
- o que seria um prazer e um fim digno de Petiot e Landru -
se eu pudesse atear fogo
queimaria seu corpo, seus escritos, seu animal de estimação.

Notaria então, que esta é a maior prova de paixão que receberia.

Estanquei quando o conheci
Elegi-o meu tesouro intocável
O grande enredo é que
Sem ele, sou como paraplégico disfuncional.

Foi ele que me mostrou que o amor
também habita, e sobretudo habita,
nas coisas mais simples...

Nos dias que nos detalhávamos nossos segredos
Nas noites em que caminhávamos como
dois bandidos
como vagabundos
vira-latas de rua no meio fio
duque e duquesa
embriagados de vinho (barato)

Na noite geradora de tantas lembranças
Tantos crimes acobertados
onde tínhamos um estoque de risos
e contos e lamentações
sobretudo os nossos planos.
Os dias em que éramos cúmplices
de desgraça
de luxúria
de vida afinal.

Naquelas noites em que tudo resumia
em silencio e no silencio
encontrávamos uma
estranha forma de sermos felizes

E como já foi dito
merecemos cremar no inferno
por nossa sinceridade
pelo crime de não haver nesse mundo
intimidade (que se compare)

Apenas nós
dançarinos embriagados
de Dean Martin 
sei que um dia abandonaremos na calçada
as ultimas lembranças, dos ultimos bares
e sucos líbicos recurgitados
Mas o nosso amor
esse jamais acabará.

Dance with me, make me sway...

domingo, 17 de junho de 2012

Mas é isso então
amor tem é cheiro
de álcool
lágrima
sangue
suor
plástico
e chorume
o resto é só literatura.

não farei o teu desejo
lhe dando versos, joão
pois não há como retratar o naufragio dos teus olhos
em poesia

veja bem
eu não escrevo pra ser boa nisso
e não sou
essas palavras são todas manjadas
mas seria você pretensioso
ao desprezar meu clichê, joão

desculpe
mas agora vou exercer o direito que todo ser humano tem
de me embebedar em algum boteco fedorento
e chorar na calçada

não que você já me tenha feito algo
pelo contrário
é que sentir algo por si só, joão
já é desesperador.

quarta-feira, 13 de junho de 2012



20:54pm
- Oi,posso entrar? Preciso muito falar com você...
- Claro, mas estou com cheiro de álho e cândida, essa vida de dona de casa é triste. Pode esperar eu tomar um banho?
- Tudo bem.
Saí, apertando o cabelo molhado na toalha. Sentei-me no tapete apoiando as costas no sofá.
- Bom, pode começar
- Eu não sei por onde começar
- Se trata da menina de cabelos longos?
- É, ela me deixou. Sabe camila, é nessas horas que acredito em Deus, filho da puta! Ele é um filho da  puta! -gritava- mesmo ela com aquele ar de vadia que exalava e o cigarro maldito que não largava, aquele cheiro aflorava meu ódio e mesmo assim ela me deixou. Nunca, ninguém vai gostar de mim...
- Veja bem Diego, pra nossa sorte, vivemos num mundo onde tem gente que gosta de transar com animais, com mortos, tem gente que gosta de comer barat...
- Ta bom camila, eu ja entendi.
- Não, brincadeira...O que estou querendo dizer é que sempre existem outras pessoas
- É o que dizem. você é feliz camila? Você esta sempre rodeada de pessoas, sempre saindo...Por que comigo as coisas não funcionam assim?
Soltei uma risada irônica.
- Sabe...Já dizia um bom amigo meu, ''na rotina dos bares que apesar dos pesares me trazem você''
- Camila, é Vinicius de Moraes, não é amigo seu.
- Por favor, não interrompa...De calçada em calçada as vezes me vem um certo semblante
a pele clara, a barba preta e comprida, o corpo pálido, magro..jogado naquela cama, naquele quarto que nunca nem me viu, que abrigam os olhos de quem até hoje mal me notou. E as vezes eu até sento aquele semblante nesse sofá e ele fica aí olhando, não fala nada, só olha. Eu fico pela casa e deixo ele me observar que é pra ver se me nota e isso tudo sem que ele saia daquele quarto. É o ponto mais alto que a imaginação pode chegar. O segredo é não se desesperar. Ele ta lá. Eu to aqui. Pronto. Sou essa materialização do desastre. Ele um pouco pior que isso. Mas como você diz pra uma pessoa ''olha, eu to querendo te fazer feliz, posso tentar?'' Falando assim soa como ''me passe a manteiga''. Bom, pra mim expressar sentimentos sempre foi algo impossível, aí eu me conformei. E você na verdade não odeia o cigarro dela. Você odeia o fato de sentir falta do cigarro dela, de olhar pro cinzeiro na mesa e ver aquela bituca manchada de batom...E o gosto da sua saudade é aquele amargo que ficava o beijo dela...
- É, é verdade...Mas e quando você sente falta de algo? Tem gosto do que?
- Bom, aí depende, as vezes tem gosto de álcool, as vezes eu só pinto as unhas...Mas quase todas as vezes tem gosto de vinho sem marca. Ela fumava o que?
- Sei lá, Marlboro eu acho
- Humm, então é marlboro, a marca da sua saudade.

quarta-feira, 6 de junho de 2012


Em memória póstuma à três anos,
eu não sei dizer se se comemora a desgraça
Por ironia de qualquer merda que você tenha crença
hoje é uma quarta feira, cinza, chuvosa e amaldiçoada
E se você pensasse em aparecer com flores eu faria você engoli-las
Uma a uma, espinho por espinho
Vou pegar minha estaca e me certificar pra que teu demônio não está embaixo da cama
Pois não me bastou ter te matado uma vez
Tenho que matar-lhe todos os dias.
E sem ter que pensar muito, ao invés de aceitar eu deveria ter desejado que você cagasse cada uma das flores.

terça-feira, 29 de maio de 2012


Samuel estava sentado na cadeira em frente ao computador enquanto Caroline deitada na cama mantinha os olhos fixos em seus olhos escuros hipnotizantes, devorando a sua alma enquanto a observava sorrindo sutilmente.
-Por que é tão quieto?
Samuel não respondeu, arrastou a cadeira até a beirada da cama, encostou seus dedos nos dedos de Caroline, passava-os por toda sua palma. Ele bebia o seu sangue antes mesmo de lhe tocar.
Caroline respirava cada vez mais forte, sentia medo da vontade que sentia, não de Samuel, que por sua vez encostou os joelhos na cama e deitou sobre Caroline que nem por um segundo pensou em evitar o que acontecia.
Samuel deixou de estar ao seu lado para estar em cima do corpo de Caroline, à segurava pelos cabelos com tal força que alguns fios saiam em sua mão, deixando-a com as costas fortemente curvadas e seu pescoço jogado para trás, ele sentiu vontade de apertá-lo com força, mas sabia que não o faria.
Bebem-se como se bebessem o sangue um do outro, se embriagam.
Aquela saliva queima sua língua, dança pela sua garganta e revira seu estômago e anestesia a sua mente. Ela gritava seu nome em silêncio enquanto desejava as dores mais excruciantes e infindáveis. Todos os pelos de seu corpo arrepiavam-se, se contorcia. Era daquela selvageria que gostava. Sentia dor em cada músculo de corpo. Samuel podia ouvir as batidas do coração dela, rápidas, se acalmando aos poucos. Ele brinca com a morte e recita seus textos. Corta cabeças, gargantas, come corações.  Fez dela um próprio poema. Ele sorria do fundo de sua alma vazia que não vê o porquê de existir em seu corpo como um câncer que não regride. Sentia o ar preenchendo os pulmões graciosamente, tal como o som dos ruídos de Caroline. Traiçoeiro em um ménage a trois com a solidão.

domingo, 29 de abril de 2012


O dia já havia começado à horas e Marina tinha acabado de acordar com aquele gosto estranho na boca, lábios ressecados, e o corpo pedindo água, foi quando levantou-se e caminhou até a cozinha onde encontrou Paulo tomando leite direto da caixa com a porta da geladeira aberta, ela não liga, nunca ligou.
- Vai fazer algo hoje à tarde?
- Sim, vida. Estou pensando em visitar minha mãe.
- Ah sim, é bom que eu visite a minha também e sinto saudades da Luana.
- Eu entendo bem, então vamos. E a noite?
- Ah, ‘’sacomé’’ né?
- Sei. Sei.  (risos)
Marina tomou um banho e passou por Paulo que se encontrava deitado com o notebook no colo, deu-lhe um beijo na testa, avisou que já estava saindo e desceu. Caminhando em direção ao metro notou que seria um daqueles dias que a noite é movimentada ali pela zona sul. Paulo provavelmente esperou que a preguiça que tomava conta de seu todo evaporasse junto com o álcool de horas atrás e foi visitar seus pais e irmã. Ao chegar respondeu as mesmas perguntas de sempre sobre  Marina e seu emprego, estavam bem e havia algumas propostas muito boas em vista.
Á essa hora  Marina já estava abraçada com sua irmã no sofá tomando nota de mil novidades que sua mãe contara, sobre sua tia Cecília e sua eterna infelicidade, sobre seus avós e os vizinhos. Paulo foi embora após passar a tarde desenhando com Luana e longos abraços com sua mãe.  Marina passou em seus avós e avisou sua mãe e voltaria no meio da semana, talvez dormisse lá. Dois terços do dia já haviam passado e à essa hora os dois já tinham seus convites e programações pro sábado a noite.  Marina iria encontrar-se com um cara que conheceu no final de semana anterior para beber alguma coisa lá pelos bares de sempre mesmo. Paulo se encontraria com alguém também que marcou por telefone a alguns dias. Acabaram não se encontrando pelo apartamento. Nota-se que os dois tiveram preguiça de lavar a louça, mas pelo menos não existia tanta roupa jogada pela casa.  Paulo comia pizza e conversava sobre teatro e cinema na casa de alguém na zona norte, ou centro, enfim. Enquanto  Marina reforçava a maquiagem dos olhos e esperava os minutos passarem para descer. Às vezes os dois gostavam de testar os limites ou fingir saúde, podiam apenas ficar na varanda olhando as luzes amarelas lá de cima, a cidade acesa...Dependia do dia, normalmente dependia da noite anterior. Nos dias úteis acaba sempre na mesma rotina, saem e chegam quase no mesmo horário,  Marina gosta de cozinhar pros dois, às vezes Paulo leva algo diferente para jantarem, tem dias que mal trocam palavras, dias que saem juntos para caminhar pela Paulista.
Marina encontrou-se com o cara do final de semana passado, conversaram, tomaram algumas coisas juntos, não se esforçaram muito para encontrar um lugar pra sentar, ela não queria o levar pra casa, não que houvesse algo errado, ele só não há surpreendia como todos os outros.  Acontece que ela vivia em constante paixão, sempre estava apaixonada por um, morria de amores até dar alguma merda muito grande ou aparecer outro mais interessante. No fundo ela sempre pensa ‘’dessa vez vai dar certo’’.
Paulo entediou-se com a pizza, com a bebida e todo o resto até a hora de saciar seus desejos carnais, seus sentimentos tinham um lugar já, não havia perigo de se apaixonar, não havia chance. Já existe alguém. Paulo faz o que faz porque é jovem, ama e é jovem, mas ama incondicionalmente. Terminou o que havia de ser feito e foi de encontro a zona sul, de encontro a sua casa e toda a perdição da cidade.  Conheciam muita gente por ali, estavam na mesma avenida socializando com as mesmas pessoas de todos os sábados, conhecendo algumas novas...
Paulo foi até o bar que costuma encontrar  Marina, passou por algumas pessoas, cumprimentou, olhou por cima e avistou os cabelos ruivos levemente alaranjados de  Marina e seu rosto fez uma expressão querendo dizer ‘’já estou aqui’’,  Marina olhou e continuou na roda que estava com o copo não mão. Paulo se aproximou.
- O que é isso? - Pegou a bebida da mão de  Marina e deu um gole.
- Ainda bem que você chegou a tempo, estava prestes a fumar haxixe com dois angolanos.
- Nossa, Marina, que fase. – E deu risada mesmo não gostando da ideia.
- Brincadeira, como foi lá?
- Normal, e aí? Cheio hoje, né?
- É, encontrei bastante gente. Tem cinco reais?
- Sempre guardo, esperando você perguntar.
- Ótimo, também tenho.  Vamos lá.
Afastaram-se do aglomerado de pessoas conhecidas e seguiram subindo a avenida até o cara que vende dois vinhos por dez reais, compraram, se sentaram na calçada, contaram alguns detalhes sórdidos ou não da noite um para o outro.
- Acho que já temos estabilidade para ter um cachorro.
- Dallas?
- Claro.  Vamos subir ou continuar por aqui?
- Ah, vamos beber e ver no que dá, a noite está boa, vamos aproveitar, não é sempre assim.
- Certo.
É provável que o domingo seja regado a comida, filmes e varanda.
E quase como um ritual os dois continuam sentados assistindo todo tipo de gente passar, estipulando os casais gays entre ‘’passivo’’ e ‘’ativo’’ e todas as outras brincadeiras internas que não teriam graça se não fosse os dois. E a noite começa ou acaba assim, o vento passa e eles o acompanham, nesses momentos é como se tudo os pertencesse e não devessem nada à ninguém, nem explicação, nem hora, nem vida. Até porque final ou começo de noite, eles tem somente um ao outro. E isso é tudo que precisam ter.


sábado, 21 de abril de 2012


- Hoje pensei que meu peito não fosse suportar

- Ainda bem que pensei em guardar algum resto de bebida para beber depois

- Você e esses hábitos podres

- Você e sua podridão, sem esforço algum

- Eu sabia que um pouco de nossa raiva seria póstuma.

- Em prestações.

- Não sei dizer se os sorrisos e olhares que trocamos foram ironicos o bastante...

- Você vai envelhecer e se arrepender, você é covarde.

- O fato é que nós nos esqueceremos por que ambos somos covardes.

- Não, nós não vamos nos esquecer. Vamos desejar todos os dias nunca mais nos encontrar, vamos desejar a infelicidade do outro e o telefone tocar pra responder com sete pedras nas mãos.

- Sabe, você gritava como quem arrancava um demônio.

- Eu fechei meus punhos, eu bati, eu soquei, eu gritei. Lá de cima eu gritava, eu gritava toda a minha força pra fora...Já você, você não teve tempo de respirar...Ficou lá...

- Eu vi, ta, ta, ta.

- Eu aprendi a usar a vida à meu favor, você nem sabe que tem uma ainda...

- Da pra parar de falar disso?

- Dá. Eu tenho medo de te encontrar mas quando encontro, é simplesmente você com as mesmas camisetas, o mesmo jeito estranho e engraçado de andar.

- Isso é...Tava me faltando essa dose de acaso, de você,  pra encher essa solidão de sentido. Tua pele branca e teu cheiro doce assim, do teu jeito de não se preocupar.

- Eu me preocupo.. mas poderia falar que amaria metade daquele lugar, o que seria irônico. Estava cheio e você era, era um buraco negro que me engolia todas as vezes que cruzava meu caminho.

- Eu pensava que podia sobreviver a mim mesmo, mas era impossível. impossível sem você. Aí te engoli (risos).

- Sabe, eu vi seus olhos brilhando quando olhou pra mim e cantou sorrindo...

- Também não há como negar o brilho dos seus olhos...

- Não houve naquele lugar, quem não tenha visto o teu sorriso.

- Esquece isso, foi um passado bom.

- Odeio quando você fala assim.

- Mágoa, amor, ódio, raiva, paixão, devem ter dado os nomes errados para as coisas certas.

- Só me restou ódio e a propósito... a idade está lhe caindo e os cabelos...

- Vai se foder, desisti. E você não desiste de mudar esse seu cabelo não?

- Não. mudo por fora, porque dentro não da pra tingir.

- Você não muda

- Olha quem fala

- Deixa eu ir, até daqui três meses

- Quando você diz isso te imagino contando os dias em um calendário

- Mas sabemos que vamos nos ver em breve...

- Talvez na semana que vem, talvez no ano que vem, talvez nunca mais.

- Ou talvez em três meses.

- Você não desiste dessa coisa dos ''três meses'' né?

- Não.

- Sabe, não dói mais.

- Só não some a cicatriz.

- É...

domingo, 15 de abril de 2012

E cá estamos nós de novo, os três mosqueteiros não tão corajosos como os originais, de volta ao ponto de partida. Crescidos, maduros, mudados. Mais fortes, mais frios, definitivamente mais frios. Parece que conseguimos o que queríamos, cada um a sua particularidade. Mas estamos aqui de novo. Dessa vez sem lágrima, sem choro nem vela.
Estamos de volta a onde tudo começou...Mas dessa vez acho que pode ser a nossa vez.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Garçom chega proximo à mesa ''falta alguma coisa senhora?''
Sim, sempre falta algo. Falta uma tigela de gelo na minha bebida pra me salvar desse calor sub humano e algo pra preencher esse vazio. Falta também algum tipo de bom senso ou controle mental que não me permita mais borrifar aquele perfume pelo quarto pra sentir o cheiro dele.
Falta algo que me tire dessa condição medíocre que me meti. Falta um murro bem dado na minha cara que me arranque um dente ou dois. Falta tirar meu coração da garganta, o soluço e essa agonia que me escorre pelos olhos. Falta paz quando encosto a cabeça no travesseiro, falta vontade quando desencosto. O garçom olha com ar de interrogação e de quem espera atentamente por uma resposta.
Sim, mais um café gelado, por favor.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Peguei tudo o que tinha: Moedas, cigarros soltos, isqueiro velho, alguns objetivos odiosos e saí sem princípios com um dos vestidos de festa mais bonitos que encontrei, daqueles rodados e com babados, cor de palha meio rosado. Rosado como o tom natural de minhas bochechas que à esta altura encontravam-se vermelhas como pimenta por conta do porre de vinho e decepções que tomei mais cedo. Já passavam das 22:00 e enquanto caminhava pela av. Vergueiro às únicas companhias eram as putas do outro lado da rua. Procurei por algum bar com uma quantidade razoável de miseráveis para comprar café em copo descartável no caminho da praça japonesa. Sentei-me em um dos degraus mais baixos, próximo ao portão. Pelos fones, não tão altos quanto precisava, ouvia qualquer música triste o bastante que me fizesse derramar mais alguma porrada de lágrimas que escorriam pela maquiagem já borrada. Dentre tudo que acontecia naquela rua a única coisa que conseguia olhar era a sombra na calçada, os cabelos por pentear, as vísceras em jogo e o coração à beira de um precipício. Sem esmero, sem destino, sem naturalidade. Sem equilíbrio algum.

sábado, 31 de dezembro de 2011

Sentados próximo à avenida você vem dizendo que eu não sei nada sobre você, com ar de quem sabe tudo sobre a vida. Do que você entende¿ Mesa de bar, cerveja, cigarro e guitarra¿ Querido, com 16 eu já fudia psicólogos. Madrugada, rock, rua e cocaína¿ Sobreviver sem tóxicos querido, não é pra amadores. Estressada, desesperada, sociopata, falida e indecisa. Encontrar equilíbrio no fundo de uma personalidade dessas não é pra fracos. Dormir, estudar, tocar e fugir. Nunca virei as costas pros meus problemas, à não ser ao dentista. Prazer, Camila odontofobica, não se preocupe eu vou às vezes à força, mas vou. Com 6 anos você fugiu de casa¿ Com 6 anos meus dentes de leite não caiam e uma louca, homicida de primeiro grau arrancava-os da minha boca com a anestesia que quase não pegava por conta do nervoso. Querido, encarar os problemas de frente não é pra fracos. Acho que eu não tenho mais nenhuma fobia... Ainda bem né¿ Até um tempo atrás eu tinha medo de cachoeira, pensava que no fundo era um buraco sem fim que me levaria pra um lugar repleto de cobras, mas me explicaram a porra toda dos lençóis freáticos e tal. Desculpe, voltando ao assunto inicial... Como é mesmo¿ O filho, o pai, e o espírito santo¿ Coragem mesmo é usar uma etiquetinha especial para ateus. Sobreviver com um rótulo é bem mais irritante do que você imagina. E ainda me perguntam o porque do café gelado.

No mercado da rua de cima comprando vodka barata e algo para encher o estômago, enquanto as conversas de paz, sonhos, promessas, pedidos e realizações me cercavam os ouvidos eu só pediria que tudo continue caminhando como está sem que eu fracasse e acabe fudendo a porra toda. Apenas que as coisas continuem seguindo seu curso natural sem que eu tenha alguma idéia estúpida e acabe metendo os pés pelas mãos.

-Que tipo de pessoa você é?

-Do tipo que se joga no cesto preto escrito ''não reciclável''.

A propósito, feliz ano novo.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A bengala encostada na cadeira que não balança e os óculos esquecidos à anos sobre o criado mudo do outro cômodo. Seus olhos grandes acinzentados nessa época da vida fitavam o rádio novo, robusto, substituindo o antigo toca fitas que repetia... ‘’Aaaah vida amarguraaada... ’’

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Toda noite, antes de dormir algo acorda aqui dentro
Grito em torno de eu mesma, então.


O céu tem permanecido cinza e a chuva tem se convidado sempre ao chá das cinco
Inunda a casa de vazio como um ritual de fim
os guarda-chuvas pretos se abrem
como uma dança
O décimo andar torna-se camarote para o velório musical
As gotas caem em abundância
Sobre o ombro dos guarda-chuvas
Escorrem as gostas uma à uma
Sobre a doce França.

Só mais um texto ruim, vomitado.

Pés esticados para alcançar a guia evitando se afogar na poça d’água imunda no espaço entre o ônibus e a calçada. Anda e se perde entre as várias opções de faróis ali no centro. Perdoa-se, disseram-lhe que até o vento às vezes erra a direção. Passa em frente aos bares que você costuma ficar e observa suas migalhas jogadas no chão, mais um gole de conhaque. Tua esmola que não vale a moeda que é. Tua esmola é centavo largado no balcão que alguém coroou rei. Praça. Banco. Crianças nos brinquedos de madeira descascada. Alternando as pernas chega o troglodita mais idiota que conhece carregando o sorriso mais doce que já se viu por essas ruas. Os olhos molhados, vívidos, ávidos, lhe acham, lhe engolem. As mãos fortes, grandes, se aproximam e arrepiam todos os pelos do corpo. Aqueles tênis brancos sujos de barro e você no lado oposto sempre um degrau abaixo nivelando a altura. Gostaria de saber o que carrega ai dentro. Quando ficar muito pesado coloque-o em minhas costas.


sábado, 10 de dezembro de 2011

-Eu sempre estou com algo que ele me deu...
-Na verdade eu acho que você sempre está com o amor... que ele te deu.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

-Um dia eu te convenço à se casar comigo.
-Um dia eu te convenço que sou um péssimo partido.

domingo, 6 de novembro de 2011

O fim da temporada de caças.

Nós os demos asas, eles voaram pra onde não deviam.
Hora de abater.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

"Eu sigo as estrelas
Sigo naves espaciais
Mais um gole de cerveja
Os carros param nos sinais
E pra mim tanto faz

Andando pelas casas

Gatos rolam pelo chão
Os ratos saem do bueiro
Carro doido contra mão
E pra mim tanto faz

Não sei o que é verdade
Conheci tanta mentira
As naves vão passando
E eu perdido aqui na esquina
E pra mim tanto faz

Olha lá seu moço
Lá no disco voador
Eu já cansei desse planeta
Eu já cansei de ser ator
E pra mim tanto faz

E a cidade
Tão distante
Não sei nem se vou voltar
E na cidade
Tanta gente
Os sonhos morrem devagar
E na cidade
Tanta gente
Os sonhos morrem ao por do sol"

Fistt

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Abre a porta e deixa entrar o vento e o cheiro que a chuva entregou.

Com os olhos fincados em uma das paredes
Tomou um gole de café gelado, e saiu deixando seus 20 e poucos anos cuspidos no chão
Saiu do ar condicionado e foi pra fora respirar mormaço
Caminhou no meio fio
Sentou na pedra em frente ao mar
Esperando que a onda viesse e engolisse tudo.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

É que eu já estou cheia desse vazio.

sábado, 8 de outubro de 2011

Coração
Você só me apronta
Mas eu não tiro sua razão.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Era (mais) um domingo cinza, o céu escurecia aos poucos e logo nem se poderia notar as nuvens escuras que derramaram água durante todo o dia. Abrira a janela e não demorou pro vento tirar a cortina para dançar. Foi quando ela parou para escutar atenciosamente o som dos carros, dos latidos, todas as sonoridades abafadas. A valsa que vinha lá de fora se encaixava minuciosamente no que acontecia lá dentro, os dois se entrelaçavam virando um, a pele branca dele levemente marcada, barba e cabelos compridos como ela gosta, ar de sono e o conhecido cheiro de doce que carregava em sua pele. Ela, por sua vez, ainda mais branca, fechava os olhos claros, mel levemente esverdeado nessa estação do ano.
-Que foi?
-Nada não.
-Fala...
-É que sabe, quando era mais nova e minha mãe demorava pra chegar, eu dormia no quarto da minha avó, bem perto da rua. O seu quarto faz o mesmo som que aquele quarto fazia.
E então ela começou com aquela história de dez anos atrás.

domingo, 2 de outubro de 2011

‘’Quem falou de primavera sem ter visto seu sorriso
Falou sem saber o que era.’’

CM

É um risco. Mas eu pulo, se você me der a mão.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Quem faz sentido é soldado.

Nós estávamos tão perto de tudo
Mas nunca chegamos realmente em lugar algum.


Eu falhei.

E o que ocorreu foi que

Quando você me sorriu a primeira vez

Eu estava desarmada.

Pode deixar que a maré vem,
Mas não demora pra baixar.
E leva daqui tudo que não é minha praia.

domingo, 25 de setembro de 2011

Mal sabia que para vulnerá-la, bastava sorrir.

O que separa minha poesia da tua música são apenas 15 longos quilômetros, e ainda assim há algo que me liga a você sem compreensão humana.

sábado, 24 de setembro de 2011

Baunilha. Seu gosto é de baunilha, e isso implica num fato interessante, pois, hora ou outra pego-me sentindo seu cheiro doce em mim, o que é engraçado pois sequer eu estive perto de você. Gosto tanto do seu sotaque que de repente eu já tomei tua voz como melhor melodia, e cada parte do seu corpo que completa o meu. Sussurrando então eu confesso a condição de te ter só pra mim, pra percorrermos juntos nessa highway, eu, você e seu gosto excepcional de baunilha.

Atravessava a rua
sempre com pressa
nunca com motivos
sorriu
não para alguém
nem para o nada
mas para a vida
que por sua vez
presenteou-a com chuva.
Chuva miúda... Garoa, né?