terça-feira, 11 de dezembro de 2012
A mesa de madeira recendia
o cheiro de cerveja
o farol dos carros
enquadrava
a grande angular daquelas
teorias sobre o caos e a vida
e sobre vermelho ser uma junção de todas as cores
mas eu na verdade acho
que seus olhos são
uma junção de todas as coisas da vida.
Você encara
esses prédios todos
de um jeito que faz com que eu me pergunte
como é que a cidade não acaba se embolotando
e ficando na contra-mão.
Enquanto digo que o
ideal seria a vida vadia
assim todos os dias
o teu olhar invade
a Bela Cintra
que mal percebes a calçada
quando percebes
meu exército de sentidos já se
rendeu ao teu
par de castanhas
declarações de guerra
E só essa avenida
só essa avenida salpicada de luzes natalinas
será capaz de resistir
ilesa aos bombardeios
que teus sorrisos
despeja sob os
céus da cidade.
domingo, 4 de novembro de 2012
domingo, 14 de outubro de 2012
Aline Narcoléptica.
A cidade escolheu justamente hoje para sucumbir ao calor, o dia amanheceu bom para velejar, viajar alguns quilômetros o centro do oceano ao lado de Aline parecia a ideia menos estúpida que tivera em dias. Procurou por entre os papeis na mesa algum que tinha rabiscado seu telefone, ligou assim que encontrou. Marcou com Aline que aceitou simpaticamente o convite. Uma hora mais tarde chegou vestindo uma saída de banho branca, tinha a pele muito clara e o nariz vermelho por conta da gripe, cabelos ruivos dourados e as unhas dos pés pintadas.
Carlos tem o costume de levar alguns enlatados e pratos prontos quando sai para velejar, mas desta vez comprou peixe, vinho e algumas frutas.
— Você costuma sempre velejar sozinho?
— Sim...
— Por que? Por que não chama algum amigo?
— Porque eu prefiro assim, gosto de ouvir apenas o meu pensamento, trago cá o que gosto e não me causa desgastes mentais.
— E você me trouxe para cá...
— Sim.
— Então gosta de mim?
— Sim, Aline.- Porra, o que ela precisa? Um sinal de neon que relampeja em sua fronte?
Aline tem um dom excepcional para questionar o que é malditamente óbvio, algumas vezes.
— De qualquer forma, me custa entender...
— Acredito que sejam singularidades..
— E nesse quesito parece que ambos estamos em extremos delas, você alguém de pouca sensibilidade e que quase nunca tem sua razão alterada e eu, provavelmente, tenho todas essas singularidades no sentido contrário.
— Veja bem, você não alimenta esse meu gênio ruim, entretanto sinto que as vezes você o absorve, acaba levando para toda sua sensibilidade o meu comportamento ruim e talvez não saiba como lidar com isso da mesma maneira que eu....
— Talvez Carlos, afinal todos nós temos pesos e medidas diferentes para ponderar aquilo que se vê de importante para a vida. A realidade é que comecei a ponderar que realmente isso não tenha mais saída, talvez você realmente nunca consiga ser alguém totalmente sociável, não consiga perder o hábito de me fechar em uma bolha em ambientes públicos.
Não se lembrava que Aline podia falar tanto. Foi quando ela deixou de falar para regurgitar todo o fermentado que havia batido em seu estomago vazio viajando em uma enorme bacia que balança e sacode o tempo todo.
Carlos assou o peixe que comprou previamente temperado e levou até a mesa perto do estofado onde Aline encontrava-se despertando.
— Como se sente?
— Melhor do que mereço — murmurou
— Coma um pouco, é melhor...
Enquanto fatiava e servia o peixe, Aline pegou a flor que decorava a mesa e colocou nos cabelos, atrás da orelha.
Carlos não aguentou, foi impossível segurar o riso, quase gargalhou.
Aline ruborizou, — Uma mulher não pode tentar ser graciosa?
— Eu simplesmente te vi vomitando pelo chão, no mar e em si mesma. Não há nada mais deselegante em termos de educação feminina.
Aline jurou quase silenciosamente nunca mais beber vinho e velejar de uma só vez.
Carlos concordou de pronto: — Nunca, neste ou em qualquer universo... e sorriu. Em pensamento acrescentou que Aline deveria ser magnifica em qualquer condição.
— Ah, bom... E o que você pensa quando está aqui?
— Você voltou nisso...
— Eu não entendo porque um ser humano gosta de ficar sozinho...
— Isto é muito apavorante para por em palavras...
— Apenas tente.
Aline estava quase dormindo quando insistiu com voz rouca de sono e garganta inflamada. Como ela faz isto? Ela pode convencer qualquer um de qualquer coisa.
— O mundo não aceita pesos como eu, defuntos galvanizados, esperando em terra pela sua segunda morte... sou um autêntico fodido mental, Aline.
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Nem posso lembrar da última vez que choveu assim, com tanta fúria, com tanta ira.
No flash dos relâmpagos vejo a imagem dele se fixar na superfície dessas paredes cobertas por azulejos espelhados.
O som do trovão é o estrondo que ouço nas vezes que correndo, meto o pé nas poças d'água.
À essa altura já não há nada seco em mim, e já não ligo pra isso.
Meu bem, tristeza é não te ter aqui...Na chuva fria, na hora H.
terça-feira, 26 de junho de 2012
A desgraçada suja e bêbada da Augusta (ou O texto Auto-Explicativo).
segunda-feira, 25 de junho de 2012
quinta-feira, 21 de junho de 2012
Seu fantasma que me persegue a semanas, esta a me perturbar o juízo
esses dias ele voltou, sentou-se novamente no sofá
tenho a impressão de que abriu um livro
ele sempre esteve aqui ou eu que só o notei agora?
eu reconheço no seu semblante que
pertence a raça de homens que me arrancam as vísceras.
Amaldiçoada te imagino
(e não sei como sobrevivo)
na solidão de um quarto
revestido por banda larga
é então que me lembro
que és de carne e osso
e isso é o que mais dói.
Saber que perdeu-se a receita da tua infelicidade
permita-me comparar-te à um começo de tarde chuvoso
gosto de entardecer assim
e de palavras pessimistas
e filmes que me fazem chorar
é que amo tudo que me deixe mais triste.
Tenho a impressão
nessas lacunas de imaginação
que a chuva existe por sua causa.
domingo, 17 de junho de 2012
não farei o teu desejo
lhe dando versos, joão
pois não há como retratar o naufragio dos teus olhos
em poesia
veja bem
eu não escrevo pra ser boa nisso
e não sou
essas palavras são todas manjadas
mas seria você pretensioso
ao desprezar meu clichê, joão
desculpe
mas agora vou exercer o direito que todo ser humano tem
de me embebedar em algum boteco fedorento
e chorar na calçada
não que você já me tenha feito algo
pelo contrário
é que sentir algo por si só, joão
já é desesperador.
quarta-feira, 13 de junho de 2012
20:54pm
- Oi,posso entrar? Preciso muito falar com você...
- Claro, mas estou com cheiro de álho e cândida, essa vida de dona de casa é triste. Pode esperar eu tomar um banho?
- Tudo bem.
Saí, apertando o cabelo molhado na toalha. Sentei-me no tapete apoiando as costas no sofá.
- Bom, pode começar
- Eu não sei por onde começar
- Se trata da menina de cabelos longos?
- É, ela me deixou. Sabe camila, é nessas horas que acredito em Deus, filho da puta! Ele é um filho da puta! -gritava- mesmo ela com aquele ar de vadia que exalava e o cigarro maldito que não largava, aquele cheiro aflorava meu ódio e mesmo assim ela me deixou. Nunca, ninguém vai gostar de mim...
- Veja bem Diego, pra nossa sorte, vivemos num mundo onde tem gente que gosta de transar com animais, com mortos, tem gente que gosta de comer barat...
- Ta bom camila, eu ja entendi.
- Não, brincadeira...O que estou querendo dizer é que sempre existem outras pessoas
- É o que dizem. você é feliz camila? Você esta sempre rodeada de pessoas, sempre saindo...Por que comigo as coisas não funcionam assim?
Soltei uma risada irônica.
- Sabe...Já dizia um bom amigo meu, ''na rotina dos bares que apesar dos pesares me trazem você''
- Camila, é Vinicius de Moraes, não é amigo seu.
- Por favor, não interrompa...De calçada em calçada as vezes me vem um certo semblante
a pele clara, a barba preta e comprida, o corpo pálido, magro..jogado naquela cama, naquele quarto que nunca nem me viu, que abrigam os olhos de quem até hoje mal me notou. E as vezes eu até sento aquele semblante nesse sofá e ele fica aí olhando, não fala nada, só olha. Eu fico pela casa e deixo ele me observar que é pra ver se me nota e isso tudo sem que ele saia daquele quarto. É o ponto mais alto que a imaginação pode chegar. O segredo é não se desesperar. Ele ta lá. Eu to aqui. Pronto. Sou essa materialização do desastre. Ele um pouco pior que isso. Mas como você diz pra uma pessoa ''olha, eu to querendo te fazer feliz, posso tentar?'' Falando assim soa como ''me passe a manteiga''. Bom, pra mim expressar sentimentos sempre foi algo impossível, aí eu me conformei. E você na verdade não odeia o cigarro dela. Você odeia o fato de sentir falta do cigarro dela, de olhar pro cinzeiro na mesa e ver aquela bituca manchada de batom...E o gosto da sua saudade é aquele amargo que ficava o beijo dela...
- É, é verdade...Mas e quando você sente falta de algo? Tem gosto do que?
- Bom, aí depende, as vezes tem gosto de álcool, as vezes eu só pinto as unhas...Mas quase todas as vezes tem gosto de vinho sem marca. Ela fumava o que?
- Sei lá, Marlboro eu acho
- Humm, então é marlboro, a marca da sua saudade.
quarta-feira, 6 de junho de 2012
terça-feira, 29 de maio de 2012
domingo, 29 de abril de 2012
sábado, 21 de abril de 2012
- Hoje pensei que meu peito não fosse suportar
- Ainda bem que pensei em guardar algum resto de bebida para beber depois
- Você e esses hábitos podres
- Você e sua podridão, sem esforço algum
- Eu sabia que um pouco de nossa raiva seria póstuma.
- Em prestações.
- Não sei dizer se os sorrisos e olhares que trocamos foram ironicos o bastante...
- Você vai envelhecer e se arrepender, você é covarde.
- O fato é que nós nos esqueceremos por que ambos somos covardes.
- Não, nós não vamos nos esquecer. Vamos desejar todos os dias nunca mais nos encontrar, vamos desejar a infelicidade do outro e o telefone tocar pra responder com sete pedras nas mãos.
- Sabe, você gritava como quem arrancava um demônio.
- Eu fechei meus punhos, eu bati, eu soquei, eu gritei. Lá de cima eu gritava, eu gritava toda a minha força pra fora...Já você, você não teve tempo de respirar...Ficou lá...
- Eu vi, ta, ta, ta.
- Eu aprendi a usar a vida à meu favor, você nem sabe que tem uma ainda...
- Da pra parar de falar disso?
- Dá. Eu tenho medo de te encontrar mas quando encontro, é simplesmente você com as mesmas camisetas, o mesmo jeito estranho e engraçado de andar.
- Isso é...Tava me faltando essa dose de acaso, de você, pra encher essa solidão de sentido. Tua pele branca e teu cheiro doce assim, do teu jeito de não se preocupar.
- Eu me preocupo.. mas poderia falar que amaria metade daquele lugar, o que seria irônico. Estava cheio e você era, era um buraco negro que me engolia todas as vezes que cruzava meu caminho.
- Eu pensava que podia sobreviver a mim mesmo, mas era impossível. impossível sem você. Aí te engoli (risos).
- Sabe, eu vi seus olhos brilhando quando olhou pra mim e cantou sorrindo...
- Também não há como negar o brilho dos seus olhos...
- Não houve naquele lugar, quem não tenha visto o teu sorriso.
- Esquece isso, foi um passado bom.
- Odeio quando você fala assim.
- Mágoa, amor, ódio, raiva, paixão, devem ter dado os nomes errados para as coisas certas.
- Só me restou ódio e a propósito... a idade está lhe caindo e os cabelos...
- Vai se foder, desisti. E você não desiste de mudar esse seu cabelo não?
- Não. mudo por fora, porque dentro não da pra tingir.
- Você não muda
- Olha quem fala
- Deixa eu ir, até daqui três meses
- Quando você diz isso te imagino contando os dias em um calendário
- Mas sabemos que vamos nos ver em breve...
- Talvez na semana que vem, talvez no ano que vem, talvez nunca mais.
- Ou talvez em três meses.
- Você não desiste dessa coisa dos ''três meses'' né?
- Não.
- Sabe, não dói mais.
- Só não some a cicatriz.
- É...
domingo, 15 de abril de 2012
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Peguei tudo o que tinha: Moedas, cigarros soltos, isqueiro velho, alguns objetivos odiosos e saí sem princípios com um dos vestidos de festa mais bonitos que encontrei, daqueles rodados e com babados, cor de palha meio rosado. Rosado como o tom natural de minhas bochechas que à esta altura encontravam-se vermelhas como pimenta por conta do porre de vinho e decepções que tomei mais cedo. Já passavam das 22:00 e enquanto caminhava pela av. Vergueiro às únicas companhias eram as putas do outro lado da rua. Procurei por algum bar com uma quantidade razoável de miseráveis para comprar café em copo descartável no caminho da praça japonesa. Sentei-me em um dos degraus mais baixos, próximo ao portão. Pelos fones, não tão altos quanto precisava, ouvia qualquer música triste o bastante que me fizesse derramar mais alguma porrada de lágrimas que escorriam pela maquiagem já borrada. Dentre tudo que acontecia naquela rua a única coisa que conseguia olhar era a sombra na calçada, os cabelos por pentear, as vísceras em jogo e o coração à beira de um precipício. Sem esmero, sem destino, sem naturalidade. Sem equilíbrio algum.